Introdução: A microcirculação coronariana desempenha um papel crucial na perfusão miocárdica e é cada vez mais reconhecida como determinante dos desfechos clínicos. O índice angiográfico derivado de resistência microvascular (AMR) surgiu como uma ferramenta não invasiva para avaliação da função microvascular. No entanto, a relação entre AMR e a lesão miocárdica periprocedimental (pMI) ainda não está clara.
Objetivos: Avaliar as alterações no fluxo coronariano e na resistência microvascular durante a intervenção coronária percutânea (ICP) eletiva e investigar a associação entre a disfunção microvascular pós-ICP, medida pelo AMR, e a ocorrência de pMI.
Métodos: Foram incluídos pacientes submetidos a ICP eletiva, bem-sucedida e sem complicações, entre junho de 2021 e dezembro de 2023. A fisiologia coronariana foi avaliada por meio de índices angiográficos derivados, incluindo o AMR, a razão de fluxo quantitativo baseada na lei de Murray (μFR) e a razão de velocidade de fluxo coronariano (CFVR). Os níveis máximos de troponina ultrassensível (hsT) foram medidos após a ICP, e a pMI foi definida conforme a 4ª definição universal.
Resultados: No total 330 pacientes foram incluídos no estudo, e a pMI ocorreu em 184 pacientes (55,8%). Após a ICP, μFR aumentou de 0,64 ± 0,21 cm/s para 0,94 ± 0,06 cm/s (p < 0,01). O AMR apresentou um aumento significativo, passando de 174,92 ± 71,88 para 256,22 ± 55,61 mmHg·s/m (p < 0,01), com 86,96% dos pacientes exibindo aumento da resistência microvascular. Entre os pacientes com pMI (55,8%), observou-se uma redução no fluxo coronariano (ΔCFVR: -1,53 ± 5,38 em comparação a 0,26 ± 4,95, p = 0,03), além de níveis significativamente mais elevados de AMR pós-ICP e variação de AMR (ΔAMR) (p < 0,01). A disfunção microvascular (AMR >250 mmHg.s/m) foi mais prevalente nos pacientes com pMI, ocorrendo em 56,5% deles em comparação a 39,7% daqueles sem pMI (p < 0,01), sendo essa diferença especialmente evidente nos pacientes que apresentaram redução na velocidade de fluxo (50,0% vs 19,1%, p < 0,01).
Conclusão: Nosso estudo destaca o papel fundamental da disfunção microvascular na ocorrência de pMI após a ICP eletiva, demonstrando que a elevação do AMR e as alterações nos índices μFR e CFVR podem ser utilizadas para a estratificação de risco, auxiliando nas decisões durante a ICP e orientando estratégias terapêuticas direcionadas para melhorar os desfechos pós-procedimento.