Introdução: O chamado "paradoxo da obesidade" refere-se à associação contra-intuitiva entre obesidade e uma melhor sobrevida em algumas condições cardiovasculares. No entanto, seu possível impacto nos desfechos após o implante transcateter de válvula aórtica (TAVI) ainda não foi cientificamente explorado.
Métodos: Foi realizada uma busca detalhada nas bases de dados MEDLINE, Embase, Scopus, Cochrane, LILACS e Google Scholar, incluindo estudos publicados entre 2018 e 2024. Foram selecionados estudos que compararam pacientes obesos (IMC ≥ 30) e não obesos (IMC 18,5–25) submetidos ao TAVI. O desfecho primário foi a mortalidade por todas as causas em um ano, enquanto os desfechos secundários incluíram acidente vascular cerebral (AVC) e complicações hemorrágicas.
Resultados: No total, 13 estudos envolvendo 38.962 pacientes foram analisados para avaliar o possível papel do "paradoxo da obesidade" no TAVI. Os achados questionam a ideia inicialmente tida de que a obesidade tem um efeito protetor: apesar de a maioria dos estudos indicarem menores taxas de mortalidade e sangramento em pacientes obesos, interpretar isso como um efeito protetor é problemático, pois o IMC não diferencia massa gorda de massa muscular, podendo levar a classificações equivocadas. Prova disso, é que, curiosamente, estudos focados em indivíduos com obesidade grave (IMC > 50) mostraram piores desfechos, sugerindo que o excesso de adiposidade pode ser, na realidade, prejudicial. Apoiando essa ideia, a metanálise não encontrou diferença estatisticamente significativa na mortalidade por todas as causas (OR 0,84, IC 95% 0,48–1,46, p = 0,543), um pequeno aumento não significativo no risco de AVC (OR 1,14, IC 95% 0,91–1,43, p = 0,239) e uma redução não significativa no risco de sangramento (OR 1,07, IC 95% 0,48–2,40, p = 0,863). As análises de sensibilidade confirmaram a robustez desses resultados.
Conclusão: Esta revisão sistemática e metanálise sugerem que a obesidade não confere vantagem de sobrevida em pacientes submetidos ao TAVI. Embora a obesidade leve não esteja associada a um aumento da mortalidade, a obesidade grave parece estar relacionada a piores desfechos. Assim, estudos mais padronizados e que envolvam pacientes com IMC superior a 50 são necessários para esclarecer melhor o impacto do IMC nos prognósticos do TAVI.