Introdução: A dengue, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, causa cerca de 400 milhões de infecções anuais, sendo uma importante questão de saúde pública. Embora a maioria dos casos seja leve, algumas formas graves, como a miocardite, podem ocorrer. O dano cardíaco na dengue grave resulta da invasão viral nas fibras musculares, e a ausência de elevação dos biomarcadores cardíacos pode retardar o diagnóstico. A miocardite não tratada adequadamente pode levar à insuficiência cardíaca e complicações crônicas. Este relato visa alertar para o risco de comprometimento miocárdico na dengue
Relato do caso: Mulher, 30 anos, proveniente da região metropolitana de São Paulo, é encaminhada com histórico de infecção viral por dengue há quatro dias, apresentando náuseas, vômitos persistentes, incapacidade de ingestão hídrica e baixo aceite alimentar. Na admissão, a paciente encontrava-se em regular estado geral, porém sem alterações ao exame físico. Recebeu hidratação em 3L/dia além do aporte via oral e sintomáticos para dor abdominal. Os exames laboratoriais indicaram plaquetopenia (plaquetas: 111.000 / mm³), com queda durante as primeiras 48 horas, seguido de um platô ( plaquetas: 7.400 / mm³). Ao terceiro dia de internação foi solicitada a avaliação da Cardiologia devido à uma bradicardia (43 bpm). O eletrocardiograma apresentava ritmo sinusal com escapes juncionais. Foi solicitada ressonância magnética de coração que evidenciou realce tardio miocárdico (não coronariano) nas paredes ântero septal, ântero lateral e edema miocárdico, obtendo assim o diagnóstico de miocardite.
Discussão:
O caso apresentado mostrou um diagnóstico de miocardite em uma pacientes com dengue, de difícil diagnóstico, uma vez que não apresentou sinais evidentes de comprometimento cardíaco, como alterações nos biomarcadores ou arritmias. No caso relatado, a bradicardia isolada foi o principal indicativo de envolvimento cardíaco, o que levou à investigação da função miocárdica. A ressonância magnética foi crucial para o diagnóstico, mostrando evidências de edema miocárdico e realce tardío, caracterizando a miocardite viral. O caso enfatiza a necessidade de vigilância contínua para complicações cardíacas em pacientes com dengue, especialmente em casos mais graves ou com sinais sugestivos de comprometimento cardíaco.
Conclusão:
A miocardite associada à dengue pode ser subdiagnosticada devido à ausência de biomarcadores cardíacos elevados em alguns casos, destacando a importância de considerar essa complicação, especialmente em pacientes com manifestações graves ou atípicas.