Introdução
A miocardite eosinofílica (ME) é uma condição rara e potencialmente fatal caracterizada pela infiltração de eosinófilos no miocárdio, resultando em necrose e perda estrutural do tecido cardíaco, causada por hipersensibilidade, doenças autoimunes, neoplasias, infecções, granulomatose eosinofílica com poliangeíte (síndrome de Churg-Strauss) e síndrome hipereosinofílica idiopática. As manifestações variam desde formas subclínicas até insuficiência cardíaca grave, choque cardiogênico e morte súbita. O diagnóstico é feito por ressonância magnética ou biópsia endomiocárdica, mas na prática clínica é frequentemente baseado na suspeita clínica.
Relato de Caso
Paciente idoso, masculino, hipertenso, diabético, asmático, em uso de omalizumab para asma, internou por pneumonia com derrame pleural e pericárdico associado a elevação de troponina sem característica isquêmica e NT-pro-BNP elevado (2838), além de hipereosinofilia sustentada (>4000). A ressonância cardíaca demonstrou disfunção ventricular esquerda moderada (FEVE 35%) associada a derrame e realce tardio pericárdicos e miocárdico não coronariano.
Após tratamento para parasitose sem resolução da eosinofilia, foi aventada a possibilidade de síndrome hipereosinofílica idiopática ou GEPA (Granulomatose Eosinofílica com Poliangeíte); sorologia não reativa aos marcadores C ANCA, P ANCA, ANTI-MPO e FAN. Houve resolução dos sintomas de insuficiência cardíaca e da eosinofilia após uso de corticoide em dose imunossupressora e azatioprina, além da suspensão do agente agressor.
Discussão
O envolvimento cardíaco é relativamente comum nos casos de GEPA (aprox. 50%) e é mais frequente nos casos ANCA negativos. Com a demonstração de miopericardite (elevação de troponina e alterações morfológicas agudas na RM cardíaca) e suspeita de GEPA, foi considerada a possibilidade de biópsia endomiocárdica, porém, devido risco elevado de complicações, não foi realizada apesar de ser o padrão ouro. Após tratamento empírico, houve rápida melhora clínica, sustentada após a alta hospitalar. A associação entre o tratamento padrão para insuficiência cardíaca e a imunossupressão foram fatores decisivos para a melhora clínica.
Conclusão
A miocardite eosinofílica é rara e frequentemente subdiagnosticada, podendo ser fatal se não tratada. O caso ilustra a importância de considerar diagnósticos diferenciais para elevação de troponina, já que a falha em reconhecer a miocardite eosinofílica pode resultar em desfecho fatal.